roubar o tempo

Quanto tempo o tempo me roubou? Não sei ao certo, mas com certeza houveram momentos que poderiam ter sido melhor aproveitado. E todos os dias eu vejo o tempo passando de uma forma rápida e violenta, me derrubando, me atravessando, sem deixar uma brecha se quer para respirar com calma. Mesmo quando encontro tempo para (re)pensar em tudo que vivi até agora, percebo que falta muita coisa, ou tem coisa demais ocupando um espaço que poderia ser otimizado. Mas qual a melhor escolha? Penso que driblar o tempo não funciona, gira em torno de uma ilusão, como se "otimizar o tempo" fosse me dar mais tempo. Tempo para conhecer alguém; tempo para ver os amigos; tempo para amar; tempo para se amar... O quanto de tempo o tempo rouba de mim e me engana na ilusão de achar que ainda tenho todo o tempo do mundo para viver tudo e do jeito que quero. 

Aparentemente me deixo ser enganada pela falsa sensação de ter muito tempo que 24 horas é suficiente, mas a todo momento almejo poder ter mais tempo para dormir, para viver, para respirar, para no fim morrer. Por mais que eu tenha medo da morte, é o único destino que o tempo nos leva com certeza. A finitude da vida nos faz acreditar que temos todo o tempo do mundo.

Pensando em como aproveitar melhor esse tempo que a vida me concede todos os dias, sinto que é um tempo perdido, pois me prendo a sentimentos e pensamentos corriqueiros e possessivos, de querer ter tudo sem esforço, de achar que o tempo está a meu favor, quando na verdade ele passa por mim e não me espera.

Então, num ato falho eu falei em roubar, roubar todo o tempo que o tempo rouba e já roubou de mim. Cansei de deixar pra viver depois. Cansei de ter medo. Cansei de fugir. Agora o tempo que fuja de mim.

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Depressão

 

onde foi que eu me perdi?
onde foi que eu me esqueci?
toda aquela energia sintética
transformada em puro nada 
depressão e ansiedade que não me larga 
fazendo do meu ser inanimada 
me tirando qualquer sinal vital
dando o último aval
eu achei que fosse conseguir sair
mas não percebi as correntes aqui
que me prendem a longa distância 
me deixando sentir a brisa lá na ponta 
dando a falsa ilusão de liberdade 
me fazendo acreditar que ia sair dali
mas mais uma vez eu cai
a dor no corpo não me deixa mentir
que toda força que eu tinha já não ta mais aqui
e ninguém pode me salvar
ninguém pode me tirar
desse buraco
que cavei sozinha
pra morrer sozinha
pra ser escuridão para sempre
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caminho


bem distante de mim estou 
procurando o que me restou
sem saber por onde seguir
tentando de toda forma fugir
não há salvação diante da dor
nenhum remédio traz de volta a cor
nem o brilho que existia na vida
nem sara todas as feridas
mas ainda não é o fim pra mim
mesmo que a angustia esteja aqui
sinto que posso chegar no topo
posso ir pra qualquer lugar de novo 
talvez se perder não seja tão ruim 
pois perdido caminha tentando sair
em busca da verdade que esteve ali
que sempre pertenceu à mim

Julia Ismara
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Um dia e um passo de cada vez...

Muito tempo se passou desde o dia que me vi sem saída, parece que nada mudou, mas nada continua igual. Pode soar confuso, eu sei, mas bem lá no fundo sinto que as coisas estão seguindo o seu fluxo natural, e que de alguma forma, as feridas estão cicatrizando. Talvez eu devesse olhar com mais leveza e serenidade as coisas ao meu redor, ter menos anseio de querer viver o futuro e aproveitar mais o presente, e ser mais presente no meu dia a dia. Às vezes sinto que essa caminhada me leva na mesma direção, como se quanto mais eu fujo menos saio do lugar. 

Mas nem sempre é só sofrimento, as alegrias aparecem, o amor floresce e a ansiedade da uma trégua. Então vesti uma armadura que me protege das garras desse monstro que sempre me seguiu, agora ele me observa de longe, sem poder me tocar, me vendo livre das suas amarras. Quanto mais longe estou dos meus demônios, mais perto de mim eu me encontro.

Aprendi a não tirar mais a casquinha do machucado até que esteja 100% cicatrizado, senão a ferida abre e o sangue escorre outra vez, e a dor nunca cessa. E não pensem que foi uma lição fácil, apesar de parecer óbvio. É preciso entender que cada um tem seu tempo, que um processo é diferente do outro e não tem nada de errado nisso, pelo contrário, temos que nos respeitar acima de tudo e saber até onde é nosso limite. Está na hora de começar acreditar que a culpa não é minha se não sou compreendida pelo outro, talvez assim a ansiedade diminui e eu paro de me cobrar. 

Sempre acreditei que a minha intensidade e o meu jeito de ser era o problema, mas até hoje nunca conheci alguém que me acompanhasse do início e permanecesse até o fim, sempre foram idas e vindas, como se molhar os pés no raso fosse suficiente. Mas isso não me preocupa, pois eu me conheço e sei do que sou capaz, quem chega e depois vai embora por não saber lidar é quem perde, porque quem vai permanecer sou eu e eu tenho que fazer de mim a minha melhor companhia. 

Porque se perder de mim foi a pior escolha que fiz um dia, e hoje eu caminho na direção de me encontrar. Já me desgastei muito por outras pessoas, por quem o tempo inteiro me dizia que não faria o mesmo, e ainda assim continuei ali, insistindo em deixar a ferida aberta, enfiando a faca cada vez mais fundo... criando expectativas e acreditando que o outro faria o mesmo por mim em algum momento. Fui bem ingenua, confesso. É aquele ditado: o pior cego é aquele que não quer ver.

Por ser assim me senti estacionada na vida, ainda me sinto, buscando algo em lugares que não existiam nada, perdendo tempo indo atrás de saídas onde não haviam portas nem janelas, apenas um muro mofado e sem vida.

Desde então eu tento não depositar no outro o que procuro em mim, pra não ter que enfrentar outra onda gigante e me afogar. Não posso mais me permitir morrer em águas que não me levarão a lugar nenhum, nem abrir feridas que não irão cicatrizar. 

É importante conseguir ressignificar toda essa montanha-russa de sentimentos, driblar a indiferença e passar por cima da tristeza. É um processo árduo que eu enfrento todos os dias, e olhando pra mim busco sempre acertar. Tento de todas as formas fazer o que é melhor pra mim, mesmo errando. Talvez a incerteza não seja uma dúvida, às vezes ter tanta certeza de tudo te leva por um caminho sem volta. E se perder é a pior coisa que pode acontecer.

Um dia e um passo de cada vez, tô caminhando sem olhar para trás, rumo ao meu reencontro.


Julia Ismara

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Apostar: ganhar ou perder - o jogo da vida.

A vida realmente é uma montanha russa que ao mesmo que tempo nos deixa aterrorizados, traz aquela sensação de alegria junto da adrenalina, nos lembrando que estamos vivos. Apesar de toda turbulência eu busco sempre encontrar um ponto de equilíbrio e paz. 

Às vezes sinto que minhas escolhas não vão me levar a lugar algum, e que a melhor delas ainda é sumir do mapa. Mas aí eu entro em contradição comigo mesma, quando ao invés de acuar, avanço e vou pra cima. Isso vale pra tudo (ou quase tudo).

É difícil pra mim dizer que estou no caminho certo, porque eu continuo batendo numa tecla que já nem funciona mais. Me desgastei durante anos e agora nada mais faz sentido, continuo me sentindo perdida. 

Hoje eu sinto mais medo de errar de novo do que de tentar qualquer coisa, me sinto presa num sentimento de impotência e inferioridade. Tenho medo de tentar uma escolha diferente e me iludir achando que tudo mudou.

Cara, eu me saboto demais! Esse texto é uma sabotagem. Eu paro pra analisar tudo que está acontecendo ao meu redor e a única coisa que busco é me esquivar de tudo e de todos, pra não perder a cabeça. Mas a vida é um jogo que precisa ser jogado.

A primeira vez que ouvi isso, que a vida é um jogo de sorte e só se sabe se vai ganhar se jogar, eu fiquei assustada. Como assim eu tenho que jogar um jogo e acreditar que vai dar certo se tiver sorte? É surreal. Mas desde então, mesmo sem saber direito o que isso significava, fiz várias apostas.

Infelizmente eu só perdi. Apostei tudo que eu tinha em coisas que não valiam mais nada. Entreguei toda a minha riqueza a pessoas que jogaram tudo fora. Eu não só apostei errado, como não vou conseguir tudo de volta.

Talvez você pense aí “ah, mas você pode ter perdido tudo pra conquistar outras riquezas”, realmente pode ser que perder não signifique perder, mas a dúvida machuca muito.

Isso gera uma insegurança absurda, me dá medo seguir uma direção nova e totalmente desconhecida sem saber o que me espera no final. A minha ansiedade não me deixa aproveitar o presente sem ser assombrada pela incerteza do futuro.

Eu disse esses dias que apesar disso tudo estou me permitindo, é como se a frase “se tiver medo, vai com medo mesmo” me movesse sem que eu consiga pará-la e isso tá sendo foda pra caralho.

Eu sou aquela pessoa que vive com os sentimentos a flor da pele, que intensifica tudo e qualquer coisa, que é inconsequente mesmo se precavendo.

Claro que o outro e o ambiente influencia muito, já que não tenho controle sob isso. Acho que a falta de controle é o que mais me desestabiliza. Sinto a pressão externa confrontando a interna, me deixando encurralada e sem saída. Me privando de ficar calma.

Aí já era, eu perco a cabeça. Fico ansiosa, angustiada, ajo sem pensar. Isso é horrível, porque mesmo tendo todas as peças não consigo terminar esse quebra-cabeças, e toda vez que inicio um jogo não vou até o fim.

Tenho vontade de gritar, mesmo não tendo voz pra isso. Quero correr, mesmo sem ter forças pra andar. Quero viver, mas a morte continua sendo mais atrativa. Talvez eu esteja me engando, talvez não. São tantas incertezas que não consigo me concentrar em nada.

As vezes acho que sou movida pela incerteza do amanhã, como não sei o que vai acontecer penso tanto nisso e acabo tendo ações contraditórias. Eu sou confusa, não tenho nada claro na minha vida e sinto que vai demorar muito ainda até tudo se encaixar.

Enquanto tudo é incerto eu tô me permitindo. Me permitindo perder, ganhar, sonhar, sentir, amar, viver. Tudo o que move o ser humano, tudo que há de mais bonito na humanidade eu quero ter e presenciar.

Mesmo estando no escuro, a esperança é a última que morre. E eu não quero mais perdê-la.

 

 Julia Ismara


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Os Cárceres Mentais

Qual é o seu cárcere mental? Talvez você nunca tenha se perguntado isso e, assim como eu, nem saiba identifica-los de imediato. Então eu te proponho a refletir um pouco comigo.

Como você lida com a frustração? Você sempre teve tudo que quis? Você é uma presa ou o predador? enquanto você responde essas três perguntas aí, eu respondo por aqui...

Eu digo depende do contexto da frustração pra que eu saiba ou não lidar com elas, às vezes é fácil demais aceitar que algo deu errado ou foi exatamente como eu não queria que fosse e isso me deixa frustrada, mas logo passa. todavia, há vezes que não é nada fácil superar e isso fica remoendo todos os meus órgãos e instintos me deixando ansiosa.

Eu nunca tive tudo que queria, mas sempre tive algo. Eu me considero uma pessoa privilegiada, não só por ser branca em uma sociedade racista, mas porque as dificuldades hoje em dia são poucas. Quando eu era criança, lembro de uma vez que tivemos que sobreviver com dez reais na semana pra comprar tudo. A minha infância toda foi conturbada, sofri nas mãos de algumas pessoas que se aproveitaram da minha inocência, na escola não tinha amigos e sofri bullying até entrar no ensino médio. Enfim, hoje meu maior sofrimento não são por questões externas, mas sim internas, eu comigo mesma.

Quase todo momento eu sou presa e predador de mim mesma, sempre que posso me saboto e me ponho num lugar extremamente difícil de sair e isso vem me deixando cada vez mais cansada. É quase um vício viver desse jeito, como se nada fizesse sentido se fosse diferente.

Os cárceres mentais são piores que os físicos, ele demanda todo seu tempo e energia, te transforma numa pessoa inacessível e isso te leva a fazer coisas impensáveis contra tudo e todos.

Ficar presa dentro de mim me leva a ser alguém insensível e apática, não me importo como o outro vai se sentir desde que eu fique bem. Porém, quando a janela do egoísmo não é aberta e então a da culpa se estabelece, é quando começa a minha autodestruição.

Quando me sinto culpada, principalmente por coisas que não fiz, mesmo sabendo disso, me coloco num lugar inferior e me mutilo mentalmente. Fico me cobrando o tempo inteiro para ser alguém melhor, mais esforçada e mais ativa. Fico estressada, irritada e ansiosa, tudo isso vem como uma bomba e quando explode é quando não tenho mais força alguma.

A ansiedade é meu pior cárcere, porque ela me faz viver num mundo angustiante, onde só existe dor e inquietude, mais nada.

Quando estou sendo presa é quando me sinto incapaz de me libertar, e ao mesmo tempo luto contra o tempo pra me levantar e seguir em frente.

Quando estou sendo predador é quando me sinto mais sozinha, é quando tenho tudo e todos, e ao mesmo tempo nada. O vazio é tão grande que me asfixia.

Os cárceres mentais vão sempre existir, não é possível se libertar deles, mas é possível ser melhor que eles. Volto a dizer que fazer terapia é o melhor caminho para se libertar dessa prisão que chamamos psiquê.

Talvez um dia eu consiga me libertar e também libertar outras pessoas. Mas o primeiro passo quem deve dar sou eu por mim, e você por você. Não há uma fórmula pronta que num passe de mágica resolva tudo. Se a gente não consegue se desprender das amarras que criamos, não vai ser o outro que fará isso.

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um pensamento angustiante

Foi engraçado como eu me senti super estável e decidida no último mês, nem parecia que agora estaria tudo fora de controle outra vez. Meus amigos ainda acham que está tudo bem, que eu to sabendo lidar com tudo, mas a verdade é que tá tudo desmoronando de novo. Eu pensei que conseguiria levar os acontecimentos da melhor forma possível, sem me arrepender nem sucumbir ao desespero. 

É engraçado como uma sequência de acontecimentos pode mudar toda sua trajetória e te fazer escolher coisas diferentes daquilo que havia planejado. A gente almeja tanto ter o controle de tudo e esquece que isso é impossível, que conseguimos apenas controlar aquilo que falamos (e às vezes nem isso). Eu digo que é engraçado exatamente por isso, porque é um paradoxo. Uma vez minha psicóloga disse que o que o outro vai fazer a respeito daquilo que eu disse não me compete, e é isso que nos faz perder a cabeça.

O ser humano é egoísta demais ao ponto de achar que suas ações beneficia alguém além de si mesmo, ou faz algo pensando em si próprio e se isenta da culpa. Isso acaba gerando angustias infindáveis e deixa tudo desconfortável.

Eu passei muito tempo pensando nessas pequenas questões que poderiam mudar minha vida drasticamente e que no fim deu em nada. Passei tanto tempo ignorando tudo pra conseguir lidar com as problemáticas externas de forma sutil, e agora me encontro desamparada e sem condição alguma de prosseguir com essas questões.

Estou naquele conceito clichê do "o problema não é você, sou eu" e, sinceramente, isso é de verdade. Eu me cobro tanto pra ser compreensível com o outro e esqueço de ser gentil comigo também, isso fez crescer aqui dentro do meu peito um buraco tão grande que não sei como fechar. Não há cura pra um coração ferido, mas há meios de sanar a dor. 

O que a maioria das pessoas não entendem é que o sofrimento nem sempre é algo estupidamente doloroso e cruel, às vezes pequenos conflitos que não são resolvidos se tornam uma bola de neve tão grande que quando você percebe já está te sufocando e não há um alguém que possa te tirar dali.

É sufocante querer gritar e não ter voz, querer andar e não conseguir dar um passo, pensar em tudo e não chegar em uma conclusão. Não saber lidar é angustiante, é frustrante...

E eu digo que eu não sei lidar, e por muito tempo tive vergonha disso. Expor minha fragilidade pra alguém se tornou algo aterrorizante e é uma sombra que talvez nunca se solte. 

Existe um passado que eu não escondo pra ninguém, porque só assim a pessoa vai decidir o que fazer em relação à mim. Enquanto isso tento resolver esses conflitos, que agora se tornaram uma bola de neve gigante, mesmo sem saber como sair daqui. 

E com isso espero que no fim tudo se resolva, ou pelo menos parte do problema. E se você que me acompanha passa por isso, o único conselho que posso te dar é: faça terapia. O autoconhecimento é importante pra evitar essas angustias, ou pelo menos saber lidar com elas. Não precisa se cobrar tanto, mas toma uma atitude porque ignorar não vai fazer com que tudo desapareça. 

A terapia existe pra que possamos nos conhecer. O diagnóstico existe, mas não é só isso. É assustador demais olhar pra dentro de si mesmo, mas é necessário. Uma dor só dura pra sempre se você permitir. 

Não dá mais pra continuar fingindo que tá tudo bem e que logo tudo vai passar. O mundo está se autodestruindo, é preciso se cuidar e cuidar de quem te importa.  




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casa

você faz sua felicidade

Eu fui embora daquela casa que nunca foi meu lar e nunca me pertenceu, e não trouxe nada comigo. Todas as coisas que tinham lá, ficaram. Carrego dentro de mim a angústia que foi viver ali, porque eu também fiz bagunça quando era pra arrumar. Era uma casa igual da canção infantil: não tinha teto, não tinha nada e ninguém podia entrar nela porque não tinha chão.

Quanto tempo passei dentro dessa casa vazia? Quando percebi, o vazio já fazia parte de mim e os buracos não eram preenchidos ou tapados. Não tinha janela pra entrar ar e luz e era frio o tempo todo. Eu pensei que jamais conseguiria sair dali.

Com o tempo os buracos se tornaram maiores e brechas foram sendo criadas para escapar dali, e foi assim que tudo começou a ruir. A estrutura da casa já não era mais consistente e não havia como viver ali, a única forma de permanecer era derrubar tudo e reconstruir. Mas sozinha eu não pude fazer nada.

Mesmo com a casa caindo, permaneci ali na esperança de conseguir reerguê-la. Fui ingênua. A obra para reconstruir a casa exigia tempo e dedicação, e a responsabilidade era toda minha. Foi quando eu decidi procurar outro lugar. 

O peso de reconstruir algo sozinha ia além do que era possível suportar, e eu estava exausta. Mesmo não morando mais nessa casa, permaneci ali por um tempo. Mas era tão sufocante que a qualquer momento tudo poderia cair e eu morreria ali. 

Num dia eu definitivamente sai de lá e não voltei mais. Encontrei um terreno para construir uma casa nova, sem lembrança alguma da velha. Não trouxe nada comigo, nada que me faça querer voltar, apenas a certeza de que meus caminhos me levarão para um lugar bom. Hoje estou feliz construindo e sendo minha própria casa.

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Em busca de respostas



Talvez a minha falta de perspectiva de um futuro promissor e bem sucedido seja em partes por causa da humanidade, não me isentando da culpa, mas agregando as causas. Pensar nessas coisas que me deixa ansiosa, falar sobre isso me dá náuseas. Mas é preciso colocar tudo pra fora de alguma forma, vomitar toda a angústia e conseguir lidar com esses anseios. 


Mesmo sem saber como lidar com as desavenças da vida, tento aos poucos me agarrar em algo que me dará forças. Não digo aqui alguém, mas sim algo, e isso é o mais importante. Entendi nesses últimos anos que não será alguém que me ajudará a levantar; isso fez com que a ponte que me ligava a um mundo de fantasias caísse. 


Acreditei por muito tempo na seguinte frase: "Talvez, se eu me esforçar muito... Eu possa me iludir" e subitamente entendi que desde então vinha me iludindo. A ilusão de que tudo tinha que ser do jeito que é, me sufocar por algum tempo por acreditar que era suficiente respirar só um pouco. Como que muda a vida sem sair do lugar? Como que anda pra frente sem olhar pra trás? Como que eu sabia disso tudo e me iludia dizendo não saber? Não sei, não há respostas. Ando em busca de respostas.


Todos esses anos minha perspectiva de vida diminuiu e fiquei desanimada, parece que nada mais faz sentido. Às vezes nem mesmo eu faço sentido. Essa incógnita que paira sob meus pensamentos tentam distorcer a realidade em que me encontro.


Mesmo sem perspectiva sinto que a cada passo estou mais próxima de chegar ao fim desse túnel, que quanto mais ando mais consigo alcançar a saída. Dentre todos os altos e baixos tento não sucumbir ao desespero porque é fácil demais ir ao limbo.


Pra quem não tem nada, um pouco é muito. E assim eu venho tentando mudar essa história chamada minha vida, cheia de anseios e angústias mas com a perseverança se restaurando.



Julia Ismara

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Pedido de desculpas


Queria ter tido forças para te ajudar a superar aqueles momentos difíceis, mas a única coisa que pude fazer foi te deixar sozinha. Fui egoísta e ignorei seu sofrimento, achei que era a melhor escolha porque você sempre fingia estar bem, e eu fingi também. Não me importei com as consequências que isso teria, nem como você se sentiria. Hoje me arrependo de ter te abandonado.


Sei que só me arrepender não vai adiantar nada, mas espero que você me perdoe. Sinto falta de te ver sorrindo, de te ver dançando, te de ver conversando sem preocupações. Sei também que é culpa minha você ser assim hoje e que não estou em posição para agir e mudar as coisas.


Você cortou o cabelo de novo né? Isso sempre te traz uma sensação diferente, é como se você se transformasse em alguém novo, alguém melhor e mais confiante. Pena que é momentâneo, porque até isso eu roubei de você. Me desculpa.


Não queria que você me odiasse, tudo que fiz foi pensando ser o melhor pra nós mas só consegui errar. Dizem que é errando que se aprende, é verdade; mas eu sou cabeça dura e continuo insistindo nos mesmos erros e não saio do lugar. Você sempre me dizia pra não fazer mais essas coisas e eu nunca te escutei, e hoje enfrento todos os monstros que libertei.


Apesar de não saber como lutar resolvi erguer minha espada, decidi enfrentar tudo e todos por você, pra gente voltar a se entender e se dar bem. Essas divergências estão me esgotando e acho que você também. Não me leve a mal, mas me dê sua mão para conseguir prosseguir.


Você é a melhor parte de mim, não se vá para sempre, não me deixa te perder outra vez. Farei de tudo para que possamos ficar em equilíbrio outra vez e assim ter plenitude antes do fim. Se amar pra sempre e ser feliz, outra vez.

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