Um dia e um passo de cada vez...

Muito tempo se passou desde o dia que me vi sem saída, parece que nada mudou, mas nada continua igual. Pode soar confuso, eu sei, mas bem lá no fundo sinto que as coisas estão seguindo o seu fluxo natural, e que de alguma forma, as feridas estão cicatrizando. Talvez eu devesse olhar com mais leveza e serenidade as coisas ao meu redor, ter menos anseio de querer viver o futuro e aproveitar mais o presente, e ser mais presente no meu dia a dia. Às vezes sinto que essa caminhada me leva na mesma direção, como se quanto mais eu fujo menos saio do lugar. 

Mas nem sempre é só sofrimento, as alegrias aparecem, o amor floresce e a ansiedade da uma trégua. Então vesti uma armadura que me protege das garras desse monstro que sempre me seguiu, agora ele me observa de longe, sem poder me tocar, me vendo livre das suas amarras. Quanto mais longe estou dos meus demônios, mais perto de mim eu me encontro.

Aprendi a não tirar mais a casquinha do machucado até que esteja 100% cicatrizado, senão a ferida abre e o sangue escorre outra vez, e a dor nunca cessa. E não pensem que foi uma lição fácil, apesar de parecer óbvio. É preciso entender que cada um tem seu tempo, que um processo é diferente do outro e não tem nada de errado nisso, pelo contrário, temos que nos respeitar acima de tudo e saber até onde é nosso limite. Está na hora de começar acreditar que a culpa não é minha se não sou compreendida pelo outro, talvez assim a ansiedade diminui e eu paro de me cobrar. 

Sempre acreditei que a minha intensidade e o meu jeito de ser era o problema, mas até hoje nunca conheci alguém que me acompanhasse do início e permanecesse até o fim, sempre foram idas e vindas, como se molhar os pés no raso fosse suficiente. Mas isso não me preocupa, pois eu me conheço e sei do que sou capaz, quem chega e depois vai embora por não saber lidar é quem perde, porque quem vai permanecer sou eu e eu tenho que fazer de mim a minha melhor companhia. 

Porque se perder de mim foi a pior escolha que fiz um dia, e hoje eu caminho na direção de me encontrar. Já me desgastei muito por outras pessoas, por quem o tempo inteiro me dizia que não faria o mesmo, e ainda assim continuei ali, insistindo em deixar a ferida aberta, enfiando a faca cada vez mais fundo... criando expectativas e acreditando que o outro faria o mesmo por mim em algum momento. Fui bem ingenua, confesso. É aquele ditado: o pior cego é aquele que não quer ver.

Por ser assim me senti estacionada na vida, ainda me sinto, buscando algo em lugares que não existiam nada, perdendo tempo indo atrás de saídas onde não haviam portas nem janelas, apenas um muro mofado e sem vida.

Desde então eu tento não depositar no outro o que procuro em mim, pra não ter que enfrentar outra onda gigante e me afogar. Não posso mais me permitir morrer em águas que não me levarão a lugar nenhum, nem abrir feridas que não irão cicatrizar. 

É importante conseguir ressignificar toda essa montanha-russa de sentimentos, driblar a indiferença e passar por cima da tristeza. É um processo árduo que eu enfrento todos os dias, e olhando pra mim busco sempre acertar. Tento de todas as formas fazer o que é melhor pra mim, mesmo errando. Talvez a incerteza não seja uma dúvida, às vezes ter tanta certeza de tudo te leva por um caminho sem volta. E se perder é a pior coisa que pode acontecer.

Um dia e um passo de cada vez, tô caminhando sem olhar para trás, rumo ao meu reencontro.


Julia Ismara

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