A salvação é uma canção.

Fresno/RJ

Quando eu tinha 12 anos descobri o gênero musical que me acompanharia pelo resto da vida, o famigerado emo. Naquela época não me atrevi muito a conhecer todas as bandas que qualquer adolescente sabia e tinha as letras na ponta da língua, até porque foi uma fase muito difícil de passar.

Lembro uma vez de estar na praia com a família, não sei ao certo quantos anos tinha, mas era bem nova e tinha um CD do Charlie Brown Jr no carro do meu pai. Coloquei pra tocar mesmo não conhecendo as músicas (e até não gostando muito). E aí todo mundo na família começou a dizer que eu era roqueira e assim fiz jus ao rótulo.

Quando estava na sétima série conheci uma galera na escola que só ouvia rock, uma amiga que era fã de Paramore e um amigo que era fã de Avenged Sevenfold. Fui muito influenciada. Éramos um grupo que só ouvia AC/DC, SOAD, A7X e Matanza, entre outros. Não vou mentir, minha adolescência foi feliz nesse quesito.

A música foi e continua sendo até hoje o que me une as pessoas, porque naquela época o bullying que faziam comigo simplesmente por fazer me levou à automutilação que quase ninguém sabe disso. Foram nesses momentos de solidão e desprezo que sentava sozinha no quarto e ouvia alguma música que dissesse o que meu corpo sentia. Por muito tempo me considerei forte por ter aguentado tudo isso sozinha.

E esse sentimento que começou desde pequena, que na primeira série só tinha uma amiga na escola toda, que era ridicularizada pelas paixonites bobas, que era menosprezada por não ser "padrãozinha", esse sentimento de não pertencimento me acompanha até hoje.

Mas foi na música que me encontrei, através dela que comecei a escrever e expressar tudo o que sinto.

Desde esse começo sempre admirei e fui muito fã da Demi Lovato, pois a luta dela era quase a mesma que a minha. Ali encontrei alguém pra seguir e ter como exemplo de superação. Foi o começo de tudo.

Com 13 anos fui ao meu primeiro show na vida, o São Paulo Mix Festival, para ver Nx Zero. Era fãzona da banda, mas os anos passam e as coisas mudam (ainda bem). Depois desse dia a minha ida à shows passaram a ser maiores. Mas como disse lá no começo, nunca me atrevi muito a essas coisas quando mais nova, me contentava em ouvir nas rádios e na televisão, enquanto sempre tinha alguém comentando um show que rolou tal dia.

Aí mais uma vez vinha o sentimento de não pertencimento a tudo isso, me sentia uma parasita tentando se encaixar onde não havia lugar. Mas isso não foi nada, a música continuou sendo minha aliada em praticamente tudo.

Não existe um só momento na minha vida em que a música não estivesse presente, sendo bom ou ruim. Muitos amores que foram marcados, muitos sufocos superados, altos e baixos e tudo mais acompanhado por uma trilha sonora. E hoje em dia não é diferente.

Com o passar dos anos eu vi nas letras que o Lucas escreve pra Fresno uma forma de me equilibrar com meu eu interior e o mundo. A Fresno trouxe na minha vida um sentimento de poder ser quem eu sou, de sentir o que sinto, de falar o que falo e não ter vergonha. O infinito que é tudo isso não está lá, está aqui.

Por algum tempo me senti perdida, sem saber o que fazer e se aquilo que estava fazendo era o que eu queria. Me perdi de mim, me afastei e me tranquei dentro de um quarto vazio. Era insuportável viver dentro de mim, nada mais fazia sentido.

Fiz da tristeza meu escudo e a solidão minha companhia, apesar de estar o tempo todo rodeada de gente, cheia de tarefas e compromissos, um buraco no meu peito se abria cada vez mais. Até que um dia parei de chorar, não aliviava dor nenhuma, não me consolava. Parei de chorar, de sorrir e de sentir. Qualquer coisa que tentasse me tocar ou me derrubar, era em vão.

Cansada de tudo pensei em desistir de tudo que sonhei. Funcionou, mas logo tudo se tornou grande e me engoliu aos poucos e depressa. Nesse momento não havia canção que pudesse me salvar.

Não vou dizer que meus tormentos acabaram, tampouco me deixaram, porque "já faz parte de mim, sou desde sempre assim", mas o que estava me engolindo, parou. Aquela massa escura que me cobria foi se soltando. Eu pude ver o lado bom da vida.

A salvação é uma canção, porque quando eu caí sem forças pra me erguer foi o que me curou, salvou minha vida mesmo sem saber. A música que é cantada numa só voz é a mesma que acolhe a alma. Se ainda existe amor no mundo, que ele seja levado de canto a canto através de uma canção e que assim você também possa ser salvo.

Agora eu vejo cores e sinto calores, meu peito ta todo remendado e devagar as cicatrizes serão apenas lembranças. Mas o tempo é agora, seja luz, seja amor, seja canção, encontre na música um lugar para fazer dessa chama o seu lar.

Nunca desistem de si mesmo, nem quando estiverem no limite!


Julia Ismara
Share:

Nenhum comentário:

Postar um comentário