Janeiro (Mentiras Bonitas)
Eu me encontrei infectado aos oito anos. Ele estava na minha cabeça, atrás dos meus ouvidos, dentro de minhas orelhas. Ele se alimentava do que existia ao ao redor, da minha mente, da minha voz. Controlava minhas mãos e as fazia tremer em busca de um lápis, de um computador.
Escrever é contar verdades usando mentiras bonitas. É maquiar a realidade com uma máscara que as vezes é opaca, as vezes transparente como o próprio ar. É carregar sob suas costas as suas histórias e dos personagens que lhe inspiram e os que você cria. É viver dentro de uma boneca russa, onde dentro de cada história existe outra, e mais outra, e mais outra.
Escrever nunca é um ato isolado. Não é porque são suas mãos que seguram o lápis, nem porque são seus dedos que teclam as letras que você está sozinho ali. Cada pessoa que lhe inspira, cada persona criada, mesmo que sendo outra faceta de si mesmo, acaba sendo outro ser naquele lugar, naquele escritório junto a ti, ou naquele banco de ônibus a noite. Escrever é uma colaboração entre você e o redor.
O parasita dentro de minha cabeça me tornou sensitivo aos ecos, ao redor, as histórias laterais. E ouvindo esses sons eu me vi, e ao mesmo tempo você e eu éramos um, e assim nós pegamos juntos as palavras no espaço e nos ajudamos a ser melhores.
E os ecos se tornavam, assim, contos e poesias, relatos e ficções, pedidos humildes de ajuda e berros de socorro. E em trinta dias eu me abri, eu me rasguei nestes textos, nestas sonoridades e nestas histórias entre as entrelinhas.
E agora, a frente, o que existe?
A frente, estão os meus olhos.
A frente, mais uma boneca russa.
A frente, uma porta entre as linhas.
“A frente”, diz o ser que vive em minha mente.
A frente, estão os ecos.
E eles me fazem ser o melhor que posso ser.
Murillo Pocci,
Aos Ecos de Janeiro.
30/01

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