Profecia III (O Livro de Alegria) - Primeira Parte
Bem, eu preciso voltar no tempo para contar essa história. Muito aconteceu até aqui, e tudo gerou esse momento, com o livro e com a garota. Que os ventos das histórias guiem meu relato.
Era fevereiro, e eu estava em queda. Você nunca percebe que está caindo antes de começar a cair, e comigo não foi diferente. Eu tropeçava em minhas lágrimas quando abri os olhos, e de olhos abertos enxerguei o chão que se aproximava e suas pedras com formato de fármacos cilíndricos de tarja preta.
(Nota de texto: É noite, e escrevo sentado no mesmo lugar onde encarei o fundo do poço. Lugares contam histórias, mas alguns deles contam segredos.)
Em minha queda, me ofereceram uma serpente disfarçada de corda para me apoiar, uma solução que poderia se virar contra mim a qualquer momento. Eu recusei, mesmo tendo apenas a menor das esperanças ao meu lado, e segurei firme nas fissuras frágeis para não cair.
Conseguia respirar sem peso quando as primeiras palavras surgiram, como cadeias de letras desconexas. As crises de apneia tinham terminado, e com o dissipar da névoa os primeiros versos chegaram como um mantra que me dava forças para sair do abismo. Foi assim que o livro começou.
Na sua capa, escrevi ‘Início’, pois ali começava algo que ainda não entendia, e no final escrevi ‘Interlúdio’, pois nenhum fim é eterno. Então comecei.
É um livro sobre felicidades e é um livro sobre minha vida. Quando você sai do abismo você consegue enxergar as cores, sentir os aromas e se espantar com a beleza dos bosques de Viena. Possui ao menos histórias de cinco meses da minha vida, de meados de maio até setembro. Não possui somente relatos reais dos meses depois de fevereiro, as também conta sobre o passado, antes da queda. Contêm fábulas, mitos e contos de outras terras (pois escritores não pertencem ao mundo no qual vivem, são exploradores que documentam o que veem com olhos coloridos e através dos olhos).
Livros tem prólogos, e o prólogo deste foi o que vivi e como tudo se dirigiu para o começo de uma nova estação de felicidade na minha vida. E essa felicidade começou com uma flor, sobre como ela me inspirava e sobre como ela me fazia bem. Escrevi como sempre ficaria ao seu lado e desde então a flor tem crescido no meu coração a cada dia, apoiada nele como uma bromélia se apoia em um tronco. Mas esta flor não era uma bromélia. No meu peito, trago um(a) Jasmin(e).
Logo depois escrevi como - e eu perceberia isso só tempo depois - estava me apaixonando por uma pessoa que se tornaria a chave para muitas felicidades e sabedorias que estavam a caminho. Ainda me lembro daquele momento, quando você se pega perdido em pensamentos e entende o que está acontecendo. E ah, a felicidade de descrever um amor correspondido! Sim, minha leitora, os amores deste livro são felizes. Refletindo, percebo que quanto mais feliz eu me tornava com o passar dos meses, melhores eram os textos, como se a jovialidade fosse gasolina, requisito para a poesia.
Talvez aqui caiba um pedido de desculpas, pois pode parecer que, por hora, estou me desvencilhando do foco deste texto, mas não estou. Muitas coisas aconteceram, como eu disse, até eu achar a autora do livro que eu escrevia. Isso foi em dezembro, e meus relatos já estão em agosto e setembro.
Tamanha felicidade e amor foram a chave para tudo que viria adiante (dentre meus amuletos carrego, assim como ela, uma chave), e mesmo se eu me esforçar, não consigo encontrar nenhuma tristeza profunda depois de um texto intitulado Bem, no qual rimava minha felicidade com meus amores. Destas palavras adiante, houveram apenas sorrisos até chegarmos em dezembro. Pronto, aqui estamos.
Murillo Pocci

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