Resmoneando

Está tão frio lá fora que meu corpo estremece a cada sopro que o vento dá, eu podia impedir isso fechando a janela, mas a preguiça de levantar é maior ainda. Me protejo dos sussurros da solidão permanecendo embaixo das cobertas, fitando o teto. Por mais que eu mexa-me na cama, ela permanece fria e nada acolhedora. O bicho Papão dorme ao meu lado, nada mais permanece embaixo da cama. Chamaram-me de tola por não mudar as coisas, que sou merecedora de tal solidão por não permitir que algo ou alguém preencha-me. Mas prefiro ser tola ao ter alguém que não se importe, que não ligue, nem sequer procure-me.  Mas quero ter alguém pra tomar café da manhã numa segunda chuvosa, alguém pra jantar num butéquim de esquina do bairro.

Uma relação paradoxal, provocada pelos meus gêmeos interior, torturante o suficiente para que eu crie crises existenciais e entre em conflito comigo mesma. Desbastar contentamento de tal profunda tristeza nunca fora demasiado laborioso. Me perco no meio deste labirinto que minha própria mente criara, quase sem forças para continuar à procura de uma saída; sem êxito.

Admito minha carência e fome de amar, minha mente é uma tempestade cheia de tornados, destrói qualquer lar pacato e impede a luz do sol de tocar as raízes. Os braços que tentam me envolver em abraços calorosos não são quentes o bastante para derreter todo o muro de gelo que envolta e protege meu coração. E a cada noite o quarto se torna mais frio e os meus fantasmas acompanham a solidão. Meus gritos são mudos, meus rabiscos são indescritíveis e socos dado no ar se repilam contra mim, deixando marcas de profunda solidão onde nem o próprio ser, só, consegue encontrar uma saída.

E um rastro de caos e destruição deixado por mim até aqui, condena-me noite após noite, deixando-me insone. Cada passo um pedaço do meu eu é deixado para trás, para que ninguém me encontre inteira, que recolha cada essência ao vir de encontro à mim. Mas sempre que olho para trás vejo apenas restos de mim, escuridão e total solidão.

Tão árduo, hoje em dia, encontrar alguém que lhe faça companhia à procura de uma saída. Nada, além de você, acompanha-te. Nem mesmo tua sombra está ali para lhe guiar na escuridão.