Profecia II
Novembro estava andando a passos rápidos pelo bosque, entre as samambaias. Uma mão segurava o vestido florido que usava, e na outra ela carregava seu livro aberto. Algo de estranho acontecia, pois aquele tomo que outrora era infinito tinha, agora, apenas algumas folhas restantes.
Pensou em procurar Janeiro, mas ela permanecia dormindo junto aos portões, e não acordaria a irmã antes da hora; Outubro havia desaparecido há quase um mês, e só restava uma irmã mais próxima a quem pedir suporte.
Não lembrava de ter ido visitar Dezembro antes, mas mesmo assim trazia uma vaga lembrança de seu jardim de flores na mente. No meio delas, a irmã de Novembro se mantinha ajoelhada, imóvel sem nem mesmo respirar. Seus lábios se mexiam, mas sua voz não era emitida através deles, e sim das flores ao seu redor.
- Achei que não chegaria a tempo, Novembro.
Novembro olhou novamente para seu livro. Mais uma página tinha desaparecido.
- O que está acontecendo? - Perguntou para Dezembro.
- Todos nós parecemos infinitos em nossos dias, como se eles não passassem, apenas as histórias. Mas as histórias sempre cobram seus preços no fim, e vemos que na verdade os dias passam, mas as histórias ficam
"Nós passamos, desde sempre, adiante. Você, Novembro, deixa nossas histórias incompletas pelo caminho, e nem percebe quando começa a lançar as de sua autoria. Seu livro sempre se esgota, até o momento em que, assim como os outros, você vem ao meu encontro."
Novembro sentiu o aroma das flores. Era veneno, o mesmo veneno que fora inalado por suas outras irmãs. Lentamente ela se deitou e se entregou ao perfume daquelas pétalas. Novembro fechou os olhos e deitou ao lado de Outubro.
Lentamente, Dezembro levantou sua cabeça e seu tórax inflou ao respirar pela primeira vez depois de um ano inteiro. Sentiu um certo prazer a inalar o perfume de seu jardim, e sorriu.
Murillo Pocci
29/11

Nenhum comentário:
Postar um comentário