Em busca de algo além do além

Foto: Thiago 


A gente se engana com muita coisa, temos convicção naquilo que falamos. Às vezes me sinto dona do mundo e o que eu falo é lei! Ai de você se me contrariar. Mas aí eu percebo que não é bem assim, que eu sou só uma pessoa no meio de sete bilhões. Dá um desânimo, eu sei. E é aí que outros me dizem "você tem que se destacar, dar o seu melhor, se esforçar mais", e eu retruco "mas eu já faço isso".

Parece que o mundo é um bicho de sete cabeças e eu sou a presa tentando fugir. Esses dias estava pensando em como a nossa mente é nosso maior inimigo, né!? A gente vê, escuta, tenta falar, mas o outro te oprime e te manda ficar em silêncio. Ok. Como vou me destacar, dar meu melhor, me esforçar, se a todo momento sou silenciada? (Seria cômico se não fosse trágico).

É nesse momento de solidão e introversão que me dá vontade de fazer tudo. É quando tento escrever, ouço música, faço comida, quero sair pra caminhar, tudo ao mesmo tempo e —  adivinhem — acabo não fazendo nada. E isso me leva para um lugar assombroso, onde passo vários dias lá.

Este lugar é escuro, frio, úmido, desolador, solitário... Apesar de ser solitário ás vezes recebo visitas: a ansiedade, a tristeza, a depressão, e elas não entendem que não são bem vindas. E os dias passam. Tem dias que eu sento com elas e converso, dou as mãos e nos abraçamos, como se fossemos amigas. Em dias assim a minha vontade de morrer é tanta que se a coragem se juntasse a nós, hoje eu não estaria escrevendo isso.

Tenho medo de estar perdendo tempo com isso, esses problemas que só existem pra mim e ninguém vê. A verdade é que ninguém me escuta e entende, ou tenta entender. Me sinto como se tudo que eu faço e falo não importasse pra nada nem ninguém. 

Às vezes eu grito e ninguém me ouve. Às vezes eu me mostro e ninguém me vê. Às vezes os sinais são tão nítidos, estão pintados na minha cara, estampados nas minhas roupas, costurados na minha pele, mas ninguém percebe.

Eu não quero que você  meu amigo  me procure depois de ler tudo que está escrito aqui, para dizer que não estou sozinha e que tudo vai dar certo. Eu estou sozinha, e talvez nada dê certo. 

Eu tento todos os dias, de alguma forma, me reerguer sozinha. O mundo hoje nos obriga a fazer isso. Eles vivem dizendo "você tem que conseguir sozinha, não confie em ninguém, não dependa de ninguém, você dá conta!", mas será que eles dizem isso para mim ou para si próprios? Porque eu não vejo sentindo em viver a vida sozinha, sem ter contato, sem confiar em alguém, sem compartilhar os momentos, sem ter alguém para apoiar ou indicar a direção. Acho que essa geração se abdicou disso tudo pra viver um universo egoísta, ganancioso (na minha visão, relacionado a ter dinheiro e nenhum afeto), pretensioso, excludente e solitário. 

Mas de uma hora para outra as coisas mudam. Talvez demore um pouco para eu enxergar o mundo de uma forma diferente, porque aqui nesse lugar escuro onde faço morada está frio e caótico e eu preciso limpar, talvez eu abra a janela para o sol entrar  se é que ele quer  e assim mudar os móveis de lugar.

Como eu disse lá no início, estou me esforçando e dando meu melhor para me destacar, afinal pra sair daqui preciso de mim para poder encontrar alguém que me ouça, entenda e compreenda, sem me questionar e julgar sempre que eu voltar para esse lugar.

Julia Ismara
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