Vazio

Eu não sei te esquecer, nem mesmo nas noites de bebedeiras que eventualmente acontecem. A cada passo, a cada trago de cigarro, a cada beijo presenciado, tudo se torna tão vazio, sem sentido. A semana sempre monótona, às vezes quente demais, às vezes um friozinho acompanhado de preguiça.. As manhãs eram tão iguais, o vento quase não tocava a janela. Enquanto a chuva limpava a cidade, o vidro da janela da sacada ficava embaçado com a fumaça do meu cigarro. A água escorria através das paredes e demonstrava calmaria ao tocar a vidraça. Os prédios estavam silenciosos, as ruas estavam vazias, ouvia-se apenas os batimentos do meu coração e as cinzas de quase um maço inteiro de nicotina tocando o chão. A TV na sala estava desligada, o rádio tocava uma música que falava sobre amor e eu continuei ali na sacada fumando um cigarro atrás do outro. Depois de quase uma hora de temporal, com a chuva mais fraca, a janela não estava mais embaçada, meu reflexo distorcido acompanhava cada gota e naquele momento me vi num estado decadente de extrema solidão. Já não dava mais pra saber o que era água da chuva ou lágrimas. Meu coração clamava por amor, meu corpo suplicava pelos seus abraços, minhas mãos percorriam todos os cômodos atrás de suas lembranças.
Saí de uma masmorra pra me perder nesse quadro de traços tortos que é amar e não possuir o ser que ama.

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